Leituras

Navegador Solitário

Navegador Solitário - João Aguiar As primeiras páginas sãoo verdadeiramente divertidas. Pobre Solitão (o nome é responsabilidade vaca da madrinha Preciosa), assombrado pelo avô Aquelino, que o quer utilizar para ser, depois de morto, o que não conseguiu ser em vida! Na segunda parte, Solitão aprendeu a escrever sem erros com a professora de português que anda a comer. Confesso que fiquei com pena do calão imaginativo, cheio de erros e sem vírgulas da primeira parte, como quando Solitãoo se atrapalha com "piçaarvativo" para dar a sua primeira "berlaitada" e depois se confessa aos padre os seus pecados contra a "castridade", pedindo a "besolvição". A terceira parte é dedicada à ambição desmedida de ascensão económica e social de Solitão (que odeia o nome e quer que lhe chamem Francisco): vai estudar Direito para Lisboa, incentivado pelo Dr. Severo, que até lhe "punha" um apartamento para poder "desfrutar" mais à vontade do físico do rapaz, se ele quisesse (não quis)! é uma fase de grandes sacrifícios, muito trabalho, muito estudo, pouco dinheiro e pouco sexo... Salva-se um novo personagem, a cavalona da prima Ivone, que apesar de estar para casar, vai "aliviando" o desgraçado do Solitão... A quarta e última parte é sobre redenção e castigo: a redenção do Solitão, a redenção da Etelvina (uma prostituta com bom coração), a redenção do bem e do amor verdadeiro; o castigo do mal, das almas penadas, do interesseirismo, da riqueza oca e da ambição desmedida. Apesar de ter conseguido criar alguns personagens e dispositivos muito interessantes (Solitão, o avô Aquilino, Teresa e a prima Ivone, a escrita cheia de erros da 1a. parte, a escrita automática), por vezes, o autor parece andar um pouco perdido, sem saber o que fazer com eles: Angelino sempre a curar-se e a recair na droga, o avô Aquilino sempre a dizer que não pode desvendar os mistérios do outro mundo, o pai sempre a chatear o moçoo, etc. Alguns dos personagens são muito vistos (a puta de bom coração, a aristocrata muito digna) e o enredo acaba por ser pouco surpreendente ou original... o rapaz salva-se das más influências... e tudo (até) termina com um "casamento improvável"!A homossexualidade é um dos temas sempre presentes ao longo do livro, contribuindo decisivamente para o enredo, embora sem ser o tema central. O Angelino arranja dinheiro para a droga vendendo-se aos homossexuais do Parque Municipal de Giestal, onde Solitão encontra (e satisfaz) o Dr. Severo. Mas o Dr. Severo é um dos "maus" da história, não por ser homossexual, mas por ser hipócrita (é casado, tem duas filhas e um apartamento em Almada, onde ao longo da vida foi tendo rapazes "por conta". O próprio Solitão não é moralista em relação ao assunto, acreditando que chegou a ter prazer, embora nem a si próprio o conseguisse confessar. Pelo meio, surgem algumas considerações interessantes sobre a sociedade portuguesa-europeia-ocidental que se mantêm actuais passados quase 20 anos sobre a escrita do livro: sobre o "provincianismo" e a "meia-tigela". "A sua predominância no actual momento histórico pode ser considerada a partir de duas perspectivas diferentes. A mais comum - que a Rita partilha - é aquela que se limita a vê-la como um sinal dos tempos, partindo do princípio de que os tempos são decadentes e abastardados, sem mais. A outra perspectiva colocará, ao menos como hipótese, que decadência e abastardamento são meros ingredientes de mutação e assinalam, ainda que indirectamente, um caminho positivo."

Inversão Sexual, de Havelock Ellis, edição integral

Inversao Sexual: (edicao integral) (Portuguese Edition) - Havelock Ellis
Já está disponível a edição integral de Inversão Sexual, de Havelock Ellis, a primeira em português do clássico sobre homossexualidade. No final do século XIX, Ellis teve a coragem de publicar abertamente um estudo detalhado e desapaixonado sobre a problemática da inversão sexual, que recentemente havia condenado Oscar Wilde à prisão e nos séculos anteriores classificara os culpados do "nefando pecado" como hereges e degenerados.
 
Ao longo de 7 capítulos, Ellis descreve a homossexualidade no mundo, os principais estudiosos da matéria, a homossexualidade nos homens e nas mulheres, apresentando um grande número de casos e depoimentos reais, a sua teoria sobre a natureza da inversão sexual, terminando com um capítulo de conclusões. Esta edição conta ainda com dois apêndices, sobre a homossexualidade nas escolas femininas e a homossexualidade entre os vagabundos, e uma extensa lista de tópicos e de autores, e marca o fim deste projeto de um ano com que se iniciou a atividade da INDEX ebooks.
 
Completámos assim o primeiro grande projeto da INDEX ebooks, mais ou menos um ano depois de nos termos lançado nesta aventura.
 
Links para compra:
Createspace (em papel)
Source: http://index-books.blogspot.pt/2013/03/inversao-sexual-de-havelock-ellis.html

Internato

Internato - João Gaspar Simões Um relato muito interessante sobre a vida nos colégios internos portugueses de meados do século XX, contado por um rapaz de 11 anos, Ramiro Afonso (o "Pinguim") que acaba de ser admitido. Ramiro é abandonado num mundo estranho e todos os seus laços afetivos, com o pai e a tia Libânia, com os amigos da sua idade e com os marçanos que trabalham na loja do seu pai, são completamente cortados. Sozinho e por sua conta pela primeira vez, Ramiro desconhece os códigos de conduta e poder que vigoram entre os rapazes do internato e comete erros que o deixam cada vez mais angustiado e confuso. Carente, aceita a amizade desinteressada do seu colega Conceição, que o desperta para a leitura, e as carícias e beijos do colega mais velho Luís Taborda, que lhe dá a proteção e o afeto que lhe faltavam.

Mortalidade

Mortalidade - Christopher Hitchens Avassalador! Escrito durante os 19 meses em que esteve doente com cancro, Hitchens continua corajosamente a defender, ��s portas da morte, o que sempre defendeu toda a vida e confronta-nos com a nossa pr��pria mortalidade."Ao longo da minha vida, j�� tinha acordado, mais de uma vez, com a sensa����o de morte. Nada, no entanto, me havia preparado para a madrugada de junho em que acordei a sentir-me realmente preso dentro do meu pr��prio cad��ver.""�� pergunta absurda ��Porqu�� eu?��, o cosmos mal se d�� ao trabalho de responder: porque n��o?""Em contrapartida, [no pa��s da doen��a] o humor �� frouxo e repetitivo, quase n��o se fala de sexo, e a cozinha �� a pior dos destinos que alguma vez visitei.""Quando chegar ao fim e me encontrar aterrorizado, num estado de imbecilidade semiconsciente, poderei, at��, gritar por um padre. Contudo, declaro aqui, enquanto estou l��cido, que a entidade que assim se humilhar j�� n��o ser��, com efeito, o meu ��eu��. (Tenham isto bem presente, n��o v�� dar-se o caso de surgirem posteriores rumores ou inven����es.)""N��o tenho um corpo, sou um corpo."O The Wall Street Journal afirma que o autor de [b:Deus N��o �� Grande: Como a Religi��o Envenena Tudo|43369|God Is Not Great How Religion Poisons Everything|Christopher Hitchens|http://d.gr-assets.com/books/1327868670s/43369.jpg|3442838] tinha raz��o quando afirmava que "n��o h�� vida al��m da morte", porque se houvesse Hitchens continuaria a enviar-lhes, para publica����o, "artigos, ensaios, cr��ticas de livros, textos perversos ou pol��micos."

Prostituição masculina em Lisboa

Prostituição masculina em Lisboa - António Duarte,  Hermínio Clemente Um trabalho jornal��stico constitu��do por relatos ou transcri����es de entrevistas de cerca de meia-d��zia de travestis lisboetas do in��cio dos anos 1980 que se prostitu��am na Avenida da Liberdade.O trabalho �� muito parcial e simplista e est�� cheio de lugares-comuns e preconceitos, assumindo no ��nico cap��tulo que pretende afastar-se do jornalismo, presun����es cient��ficas balofas, onde tudo se confunde (homossexualidade e travestismo e prostitui����o) e nada se esclarece, ficando no ar a d��vida se a falta de clareza �� propositada ou se �� apenas um "descuido". A escrita ��, tamb��m, pretensiosa e desagrad��vel.Alguns exemplos: "Esta �� a heran��a dos novos mutantes da era do ��tomo, dos libertinos de saias, vagabundos do l(i)uxo que (n)os cerca, anjos negros, viscosos, sem p��tria, pintalgados de ilus��es em policromia."ou"Porque n��o se reproduzem, os homossexuais sentem, por seu lado, a necessidade, incessante, de conquista de novas presas."ou "Existe um fosso entre os homossexuais (incluindo pederastas e prostitutos ��encobertos��) e os prostitutos ��descobertos�� que exibem o sexo na rua. A diferen��a b��sica n��o est�� bem na g��nese educacional da homossexualidade, mas sim nas condi����es sociais e culturais que lhe serviram de palco. Os psicanalistas colocam, normalmente, como axioma, que a homossexualidade do adolescente �� a deforma����o da sexualidade dos progenitores... "Julgo que n��o ser�� preciso dizer mais nada... a n��o ser que foi publicado no mesmo ano que [b:Ser Homossexual em Portugal|17256603|Ser Homossexual em Portugal|Guilherme de Melo|http://d.gr-assets.com/books/1358458326s/17256603.jpg|23850060] de [a:Guilherme de Melo|381228|Guilherme de Melo|http://d.gr-assets.com/authors/1320230825p2/381228.jpg] (e se calhar, �� sua boleia), este sim, um trabalho mais interessante, e que tem pref��cio de [a:Clara Ferreira Alves|3156316|Clara Ferreira Alves|http://d.gr-assets.com/authors/1357570899p2/3156316.jpg] (o que teria ela a dizer desta obra hoje?).

Até hoje: Memórias de cão

Até hoje: Memórias de cão - Álamo Oliveira Um livro poderoso sobre a guerra colonial, surpreendentemente veros��mil! Jo��o, um jovem arrancado �� vida religiosa e tradicional de uma fam��lia rural dos A��ores, vai para a tropa e "aterra" em Binta, uma zona isolada da Guin�� dos tempos coloniais. Em Binta, a guerra ainda n��o chegou e o tempo arrasta-se, h��mido, quente, mole, sem inimigos �� vista, sem not��cias, sem mulheres, numa monotonia de dias sucessivamente iguais, que nem a dorm��ncia do ��lcool consegue interromper. Estes homens, assim isolados do mundo, refugiam-se da insanidade latente na camaradagem que lhes proporciona o carinho, o amor e o sexo sem os quais parece n��o valer a pena viver. Jo��o regressa a casa sem matar um ��nico "turra", com efeito, sem disparar um ��nico tiro, mas este Jo��o que chega �� outro: o que partiu, dois anos antes, e que sobreviveu a Binta por ter a seu lado Fernando, morreu "no quarto n�� 13 da velha pens��o do Rossio" onde "o amor ficara do tamanho da cidade e coubera inteiro numa pequena cama de ferro, pintada de esmalte branco".H�� poesia escrita em prosa. At�� Hoje �� prosa escrita como poesia. A leitura torna-se, por vezes, morosa, mas ganha ritmos e nuances pouco habituais que, finalmente, acabam por servir bem para nos envolver emocionalmente nos horrores e frustra����es da guerra e dos amores imposs��veis.

A Sombra dos Dias

A Sombra dos Dias - Guilherme de Melo Lembro-me bem que, quando li A Sombra dos Dias, fiquei com a impress��o que lhe faltava um gr��ozinho de g��nio. Esta poderia ser "a" obra monumental e dram��tica da literatura portuguesa sobre a guerra do Ultramar, sobre a descoloniza����o, sobre os "retornados", ainda para mais por ser uma autobiografia e por ter uma perspetiva muito espec��fica, a de um homossexual. Apesar de n��o ser a tal obra genial, n��o deixa de ser uma excelente leitura, de uma coragem dif��cil de avaliar no tempos presentes. Para ler e reler!

Dentro do Segredo

Dentro do Segredo - José Luís Peixoto "Sem sorrir, com ar sério, a menina Kim disse que estava bom tempo porque se aproximava o aniversário do grande líder."A escrita de Peixoto é fluída e agradável e o livro lê-se num fôlego. Mas a obstinação inicial com a Coreia do Norte e com o desejo de a visitar não resulta em nada a não ser algumas breves reflexões sobre vida e a sobre a família que sabem a pouco.

O Caderno do Algoz

O Caderno do Algoz - Sandro William Junqueira Ontem a Margarida colocou na sua lista "to-read" o livro Um Piano para Cavalos Altos. Por coincid��ncia tinha lido no Expresso de s��bado que este era um dos autores "promessa" da literatura portuguesa. Ora eu j�� tinha lido h�� algum tempo [b:O Caderno do Algoz|17213187|O Caderno do Algoz|Sandro William Junqueira|http://d.gr-assets.com/books/1357502403s/17213187.jpg|23696203] e n��o tinha ficado muito impressionado. Decidi reler e n��o mudei de opini��o. Com efeito, j�� estou a ficar sem paci��ncia para "experimentalismos liter��rios" e a forma como o autor parece que sorteou aleatoriamente a ordem dos cap��tulos, misturando sem aviso passado, presente e futuro �� uma "seca". Bem me podem dizer que desta forma cada leitor "l��" uma hist��ria diferente, etc., etc. N��o me convencem. Depois os personagens pairam pelos cap��tulos, tamb��m fragmentados... um coveiro, inspetor bissexual s��dico, uma mulher com um seio amputado, m��e de uma crian��a que passa o tempo a tossir e a pingar ranho, um an��o sodomizado, um c��o e um peixe maltratados e um escritor que comete um crime e corta a m��o que o cometeu (inspira����o para a capa). Esperemos que [b:Um Piano para Cavalos Altos|13475068|Um Piano para Cavalos Altos|Sandro William Junqueira|http://d.gr-assets.com/books/1328779392s/13475068.jpg|19005628] seja, de facto, muito melhor...

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Jorge Luis Borges, José Colaço Barreiros
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A Edição de Livros e a Gestão Estratégica
José Afonso Furtado
Ramakrishna and His Disciples
Christopher Isherwood